Entre 18 e 20 de Novembro
Um Distante Oriente:
Estudos sobre o Oriente na Antiguidade e Medievo
PALESTRANTES
18 de Novembro às 19h
Profa. Dra. Janaina Zdebskyi (Meridianum/UFSC)*
Cosmovisões e magia na antiga Suméria nos cultos à deusa Inanna
A proposta da conferência é de trazer reflexões acerca das práticas religiosas, ritos e práticas mágicas registrados em documentos sumérios, em sua maioria datados do segundo e terceiro milênio antes da Era Comum, tendo como recorte temático aqueles documentos direcionados aos cultos à deusa Inanna, permitindo assim conhecer as cosmovisões sumérias sobre morte, guerra, sexualidade e fertilidade, sendo esses atributos da deusa em questão.
*Doutora em História Global na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com bolsa CAPES, Mestra em História Cultural pela UFSC com bolsa do CNPq; Licenciada e Bacharel em História pela mesma instituição; Psicóloga formada pela Universidade do Vale do Itajaí com Bolsa ProUni; Pós graduada em Sexologia Multidiciplinar pelo Departamento de Pós-Graduação da FG Faculdade Global; formada em técnico em turismo pelo Colégio Estadual Barão de Capanema. Membro do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Medievais (Meridianum) da UFSC. Em suas pesquisas dedica-se em abordar mitologias e entrelaçamentos culturais no espaço do antigo Crescente Fértil, além de pesquisar o fenômeno da prostituição sagrada nesse contexto e, atualmente, tem foco em pesquisas nos campos de História Antiga e História das Religiões e Religiosidades, mais especificamente nos temas de relaçõs de gênero, sexo/fertilidade, morte e guerra em documentos sumérios sobre a deusa Inanna. Tem buscado apresentar possibilidades de utilização de perspectivas decoloniais e que questionem paradigmas ocidentais e contemporâneos ao pensar História Antiga
19 de Novembro às 14h
Prof. Dr. João Vicente de Medeiros Dias (UNESPAR)*
O Império Bizantino entre a resiliência e o negacionismo:
esboços de uma história desfigurada
A história da existência medieval do Império Romano ou, como conhecemos hoje, “Bizâncio” e “Império Bizantino”, é marcada por negacionismos desde o período medieval. A cristandade latina mutada posteriormente em “Ocidente” almejava (e ainda almeja!) a posição de herdeiros oficiais da Roma Antiga. Portanto, tiveram problemas constantes com a romanidade daquela entidade política centrada em Constantinopla e aqueles que lá habitavam. A insistência destes últimos em se chamar “romanos (rhomaioi)” e a tradição direta e ininterrupta que os ligava com os romanos da Antiguidade eram fonte de irritação. Desse modo, a Cristandade Latina criou termos alternativos para nomeá-los: “gregos” e, posteriormente, “bizantinos”. Assim, esta palestra vai abordar esta história de negação da romanidade bizantina e examinar marcos que até hoje a historiografia usa para justificar um rompimento entre Império Romano e Bizantino: alguns eventos históricos como a refundação de Constantinopla em 330, a divisão do Império Romano entre suas partes ocidentais e orientais e a queda de Roma em 476, assim como o uso do grego como língua franca ao invés do latim e a adoção do Cristianismo. Contudo, mostraremos que nenhum destes marcos podem ser vistos como rompimentos completos com o passado, mas partes de longos processos históricos. Por fim, propomos resgatar a romanidade dos bizantinos. Naturalmente, não uma que seja estática, mas transformada e adaptada para novas conjunturas históricas, as quais permitiram que fosse possível que esta “Roma Medieval” continuasse existindo por um milênio.
*Professor colaborador no Colegiado de História na Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR Campus Paranavaí). Doutor em História com ênfase em Estudos Bizantinos (2018) na Universidade Johannes Gutenberg de Mainz com estágio pós-doutoral na Universidade Nacional Autônoma do México (2021-2023). Mestre em História - linha de pesquisa "Cultura e Poder" - (2010) e Bacharel e Licenciado em História (2007) na Universidade Federal do Paraná. Produção focada na representação, exercício, partilha e contestação de poder, ideologia e historiografia no período médio bizantino (863-1204). Sou membro da Sociedade Brasileira de Estudos Medievais (ABREM) e do Comitê Argentino de Estudos Bizantinos (CAEB).
20 de Novembro às 19h
Profa. Dra. Beatriz Bissio (UFRJ) *
A civilização árabe-islâmica clássica. Importância e legado
O Islã, desde as suas origens, é uma religião profundamente vinculada ao processo de urbanização, já que nasceu e propagou-se em duas cidades, Meca e Medina. No começo do século VII, os árabes se lançaram à conquista das duas grandes civilizações da época, a bizantina e a persa. Dominada a Pérsia, a arte arquitetônica muçulmana assimilou as tradições sassânidas, islamizando-as gradualmente. Nos territórios anexados pelos muçulmanos já existiam algumas cidades, e outras foram fundadas em resposta às necessidades criadas pela expansão do Império. Damasco e Alepo são exemplos dos centros urbanos antigos ocupados pelos árabes durante a primeira fase das conquistas; ambos sofreram um progressivo processo de transformação, criando uma continuidade entre a cidade preexistente e a urbe muçulmana. Com o passar do tempo, e particularmente com a mudança do poder dos omíadas para os abássidas, novos centros urbanos — Bagdá, Fez, Cairo, entre outros — surgiram e se expandiram. Os textos dos geógrafos e dos viajantes dos séculos IX e X oferecem ricos e pormenorizados retratos das cidades islâmicas medievais. São descrições feitas a partir das notas tomadas diretamente durante a peregrinação, que se estende da península Ibérica ao subcontinente indiano. O processo de unificação cultural desse vasto espaço consolidou-se com a transformação da língua árabe no instrumento de comunicação por excelência entre o centro e as mais afastadas regiões do império. Vários autores, entre os quais Claude Cahen, chamam de “árabe-islâmica” a cultura que se constitui nesse processo e considera-se cristalizada por volta do século IX. Fazem-no por considerar importante o resgate dessa dupla identidade: árabe porque — sem negar a participação dos não árabes e, em particular, dos persas — foi a língua árabe a que serviu de veículo comum aos povos que, separados até então do ponto de vista linguístico, contribuíram para edificá-la. Mas a cultura é ao mesmo tempo islâmica, porque, sem deixar de lado as pegadas deixadas por cristãos, judeus e todos aqueles que participaram com sua contribuição, ela organizou-se, cada vez mais, em torno dos muçulmanos A palestra vai abordar a formação da civilização árabe-islâmica e o seu principal legados para a civilização humana como um todo.
*Professora Associada do Departamento de Ciência Política e do Programa de Pós- Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vice-diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais / IFCS (período setembro 2022-setembro 2024) Doutora em História (Universidade Federal Fluminense / UFF). Sua tese de doutorado sobre a civilização árabe-islâmica clássica foi publicada pela Editora Civilização Brasileira com o título "O mundo falava árabe". O livro também foi lançado em versão digital (e-book). Beatriz Bissio trabalhou como correspondente internacional de vários meios de comunicação latino-americanos e foi uma das fundadoras e posteriormente editora e diretora das revistas Cadernos do Terceiro Mundo (1974-2006) e Ecologia e Desenvolvimento (1991-2006). Durante três décadas cobriu acontecimentos na América Latina, África e Ásia - em especial no Oriente Médio e na África - guerra de libertação e independência de Angola e Moçambique; luta contra o apartheid na África do Sul, questão palestina- israelense, guerra no Líbano, crise na Somália, no Iraque, conferências do Movimento dos Não Alinhados (Cuba, 1979) e da ONU (Beijing, 1995), etc. Entrevistou personalidades como Fidel Castro, Velasco Alvarado, Nelson Mandela, Agostinho Neto, Samora Machel, Julius Nyerere, Yasser Arafat, José Ramos Horta, Eduardo Galeano, Rigoberta Menchú, Mercedes Sosa, etc. Publicou centenas de artigos em diversos jornais e revistas da América Latina, Europa, EUA e África, além de colaborar com agências de notícias internacionais e emissoras de rádio e TV latino-americanas. Uruguaia, naturalizada brasileira, viveu na Argentina, Peru, México e Portugal. Foi coordenadora do Comitê de Relações Internacionais do Governo do Estado do Maranhão, de 2007 a 2009, na gestão do Dr. Jackson Lago, fazendo o elo entre o governo do Estado e o Itamaraty, na área de cooperação internacional. Em 2011 ingressou na vida acadêmica, na UFRJ, através de concurso público. Como acadêmica coordena o Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre África, Ásia e as Relações Sul-Sul (MIEAAS) e integra a rede The Bandung Spirit e o Grupo de Trabalho de CLACSO Geopolítica, Integração Regional e Sistema Global. Tem publicado numerosos capítulos de livros e artigos em diversas publicações acadẽmicas, além de atuar como revisora de periódicos. Recebeu vários prêmios, entre os quais o "Golfinho de Ouro" de jornalismo (2000), a "Medalha da Vitória", concedida pelo então Ministro da Defesa, Celso Amorim, em 2013 e a Medalha Abreu e Lima, da Casa da América Latina e do Instituto José Martí, em 2015.